No ano de 2018, algumas marcas ficaram bastante conhecidas por se tornarem líderes no ranking da DxOMark, mas o que é exatamente essa classificação?
É certo que a câmera virou uma das principais funções de um smartphone atualmente. E como a briga está ficando cada vez mais acirrada, as empresas trabalham para mostrar o diferencial das suas lentes e processamento com termos técnicos, fotos altamente editadas e claro, o parecer de especialistas.
Nesse momento que entra a DxOMark, empresa dedicada a fazer testes para avaliar de forma mais objetiva e técnica os sensores de celulares e câmeras.
História da DxOMark
Para entender melhor como que conseguimos mensurar a qualidade de uma câmera de celular precisamos voltar um pouco no tempo. Tudo começa com a DxO Labs, uma empresa francesa focada em fotografia que iniciou suas operações produzindo um aplicativo de conversão de arquivos RAW chamado DxO Optics Pro.
A ideia era melhorar a imagem em vários quesitos através desse software, incrementando a faixa dinâmica, reduzindo alterações ocasionadas por diferentes tipos de lentes e por aí vai.
Só que eles precisavam realizar inúmeros testes diferentes para cada nova câmera presente no mercado, justamente para o software se adaptar a elas.
Como o número de dados levantados era grande e bastante útil, a empresa passou a transformar esses dados em uma ferramenta online de comparação chamada DxOMark.
Por muitos anos a empresa se manteve fazendo análises apenas de câmeras DSLR, mas com o advento e avanço dos smartphones e de suas câmeras, nasceu o DxOMark Mobile.
A capacidade dos smartphones de tirar fotos em RAW, ou seja, fotos cruas, sem processamento e com mais informações – coisa que ocorreu a partir de uns 3 anos atrás -, ajudou a trazer profissionais para a fotografia mobile e consequentemente o comparativo ficou cada vez mais conhecido.
Aliás, apesar de possuir muitos dados por trás, as análises realizadas são super bem divididas, contém uma linguagem bastante acessível – apesar de apenas em inglês -, e demonstram todas as opiniões através de imagens reais, de forma bem visual, o que chama atenção do público menos técnico mas que mesmo assim é interessado.
Limitações das análises
Acontece que nem tudo é um mar de rosas e temos algumas limitações:
A primeira é que a metodologia que o DxO Labs usa para capturar suas medições, envolve o trabalho com a saída do arquivo de imagem RAW de uma câmera.
Nem todas as câmeras e smartphones oferecem essa opção de arquivo RAW e muitos dos equipamentos mais baratinhos oferecem apenas a opção de fotografar em JPEG, o que acaba tirando esses equipamentos do banco de dados da DxO Labs.
Outra limitação, pelo menos teórica, é que a lente usada deveria ser a mesma em todos os testes. Como smartphones não tem lentes destacáveis e geralmente tem um hardware diferente do outro, a análise mudou um pouco se comparada às DSLR.
E pra fechar, o outro ponto é que o DxOMark não testa a resolução do sensor. Pode até parecer estranho, já que essa é a primeira característica de uma câmera que a maioria das pessoas considera, mas pensando bem, não tem necessidade de uma medida de resolução, já que esse número está na especificação do produto.
Como funciona?
Conhecendo essas limitações está na hora de falar de coisa boa, o que eles realmente mensuram.
São realizados testes em características como: contraste, alcance dinâmico, cor, exposição, balanço de branco, saturação, matiz, sombreamento de cor, textura, ruído, foco automático, aberrações cromáticas, reflexos, padrão moiré, flash, zoom em diferentes distâncias, efeito bokeh, o conhecido modo retrato e vídeo, onde avaliam foco automático e estabilização.
Pra cada um desses itens existe uma metodologia específica.
A maioria dos testes são feitos por fotógrafos e temos notas atribuídas para o celular com base no arquivo da foto e não no hardware em si.
O que eles acabam fazendo é explicando um pouco mais sobre a funcionalidade de um HDR, a capacidade de tirar fotos seguidas (conhecido também como burst mode) e por aí vai.
A polêmica da pontuação
Só que tem um problema, até pouco tempo atrás os modelos topos de linha estavam perto dos 95, 98 pontos e nosso reflexo é pensar que a câmera perfeita vai ganhar 100 pontos, correto?
Foi aí que o Huawei P20 Pro ganhou 109 pontos e aí? Qual o porquê disso? Os caras fizeram o teste errado?
Não, errado eles não fizeram. É que a base de cálculo não é o percentual e muito menos uma média das notas. Basicamente ela é uma soma ponderada doida e confidencial onde onde são mapeados dezenas de sub-pontuações que no final dá uma ideia do desempenho do celular em várias frentes diferentes.
O complicado é que essa pontuação é subjetiva, então apesar de toda ciência por trás do teste, o Galaxy S9 acaba ficando na frente do Google Pixel 2.
O S9 consegue isso por ter melhores notas em zoom, modo retrato e desempenho em baixa luz, mas olha, a faixa dinâmica e o processamento do Google Pixel 2 me agradam bem mais, aliás, você mesmo pode julgar diante dos exemplos a seguir.
O que causa isso é que a nota geral é também a somatória de todas as câmeras. No ano passado, o One Plus 5 conseguiu uma nota de 87 contra uma nota de 84 pontos do LG G6. Certamente o LG G6 tem uma câmera traseira melhor, mas o OnePlus basicamente destrói o G6 na câmera frontal.
Colocando tudo junto, o ganho na câmera frontal é maior do que a perda na traseira, e sim, temos um celular mais consistente em câmeras. Só que o mercado e alguns jornalistas internacionais encararam isso como um ponto para descredibilizar o processo da empresa.
Em resposta, a empresa afirma que são mais de quarenta e cinco cenas internas e externas que foram especialmente projetadas para serem úteis na análise da câmera do smartphone, tanto para os fabricantes quanto para os usuários escolherem a melhor câmera para eles.
Se diferentes pessoas tem necessidades diferentes, câmeras diferentes atenderão esses cenários e cada uma pode ser melhor para uma pessoa.
Fotos de viagens precisam de uma exposição correta, fotos de esportes um foco automático de qualidade, zoom e velocidade de captura e por aí vai. A análise completa está lá, só a média final que parece realmente mais controversa, embora necessária.
Otimização para os testes
Porém, nem tudo são flores. O DxO Labs trabalha tanto para analisar como para ajudar os fabricantes a melhorarem suas câmeras. Esse teste virou um benchmark onde empresas testam seus celulares contra os concorrentes, moldando um guia de como o fabricante deve otimizar seu produto.
Com isso, supõe-se que algumas marcas otimizaram suas câmeras para o teste, conseguindo notas mais altas do que deveriam – alguns exemplos são a HTC e VIVO.
As empresas passaram também a firmar parcerias – geralmente pagas – para ter uma análise completa de seu aparelho logo no lançamento. Não quer dizer que eles pagaram para ir bem, mas para terem prioridade de análise, afinal, o estudo é tão complexo que demanda um bom tempo e consequentemente dinheiro.
Então assim, o teste é legal, é um bom ponto de partida para entender qual câmera é melhor, mas, você como usuário precisa ter noção de que alguma característica em específico pode te chamar mais a atenção.
O grande lance é que as empresas estão focando bastante na DxO para afirmar que suas câmeras são boas, pagando para ter prioridade, quem sabe abusando do método, e claro, a usabilidade, o software e a compatibilidade ainda não são analisados, só a câmera por si só.
A Stella Dauer, do Eu Testei e do Android PIT disse uma coisa muito interessante em um post sobre o tema:
“Se as empresas estão moldando o desenvolvimento de suas câmeras em torno desses testes, o DxOMark está moldando, em parte, a trajetória de desenvolvimento de produtos de smartphones com testes que não são totalmente abrangentes e que pesam alguns recursos à frente dos outros, incluindo alguns que a maioria dos consumidores não utiliza”.
Nada substitui o conhecimento, e se soubermos fazer uma boa leitura de como a análise é feita, conseguimos passar isso pelo nosso julgamento do que é importante para cada um mediante àqueles teste.
Por isso, não basta ver a nota final, ela nem sempre mostra exatamente o que a gente espera e muito menos consegue representar ou substituir a experiência de pegar e testar você mesmo.
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