O Galaxy Watch Ultra é o maior, mais potente e possivelmente o melhor relógio inteligente que a Samsung já produziu. Só que ele tem dividido opiniões por se parecer demais com o seu concorrente direto, que também tem o sobrenome Watch Ultra, mas o primeiro nome é Apple. Eu estou ele por vários dias pra tudo e quero te contar como tem sido a experiência com esse relógio enorme e cheio de recursos. Ele é pra todo mundo? Ele cumpre o que promete?
Construção e design
Deixa eu começar o review pelo ponto mais dolorido. Quando você olha o design quadrado, a pulseira náutica na cor laranja, os botões mais saltados, o feixe da pulseira, não tem como não notar a semelhança entre os concorrentes. É impossível ignorar.
E vamos lá. A Samsung produziu um relógio para quem pratica atividades extremas e não quer usar o ecossistema da Apple. Ponto.
A ideia, pelo que eu consigo interpretar, é evitar que os consumidores migrem para o lado da maçã porque precisam de um relógio mais potente para atividades físicas consideradas extremas.
E eu não vejo problema nesse movimento da Samsung. Até porque para o consumidor final que busca um produto bom, não importa quem faz primeiro, mas sim quem faz melhor.
Cópias, inspirações ou design muito parecido é algo normal na indústria, ainda mais quando se fala de concorrentes tão diretos.
Mas a verdade é que muita gente torceu o nariz para o design. Eu mesmo demorei para acreditar. Quando eu vi os primeiros renders nos rumores sobre o Galaxy Watch Ultra, achei que eram rumores bem furados, até perceber que era real.
E quando a gente foi apresentado aos modelos no Galaxy Unpacked, a gente perguntou para Samsung o motivo do design. A resposta oficial é que, para ter os sensores mais aprimorados, o relógio precisava de um corpo maior que o do Watch 5 Pro, por exemplo.
Além disso, a Samsung se defende dizendo que não é um design 100% inédito na própria marca. O Galaxy Gear 3 Sport, lá de 2017, tem um design quadrado com a coroa redonda.
E bom, falando de design, vamos lá. Como eu já falei, a caixa é mais quadrada com os cantos arredondados. E quadrada mesmo, com os quatro lados com a mesma medida, diferente do Apple Watch Ultra, que é um pouco mais retangular.
Essa caixa é de titânio. Do lado direito ficam os três botões, o que é uma novidade nos Galaxy Watch e eu explico melhor daqui a pouco. E do outro lado ficam as duas saídas de som, que são enormes.
Na parte inferior, que fica em contato com o pulso, a grande diferença é que agora a Samsung aumentou o número de sensores para 13, e isso visa um melhor monitoramento das métricas de saúde, que vão de batimentos cardíacos a temperatura da pele.
Aqui você vai ver também os dois botões de clique para acoplar pulseira e a caixa do relógio. Os botões de clique já estão presentes nos outros relógios comuns da Samsung, mas o tipo de encaixe não é de pinos, como os outros.
E sim, esse encaixe é bem parecido com o dos Apple Watch, sejamos francos. Mas pra quem ficou se perguntando, é um encaixe proprietário, e as pulseiras de um relógio não servem no outro.
Apesar das cores serem bem parecidas, a Samsung mudou o seu encaixe e tem um sistema de dois furos, contra um do Apple Watch Ultra. Essa pulseira marítima parece um pouco mais resistente que as de outros relógios da Samsung, e eu posso dizer isso porque testei todos desde o Watch Active 2.
Aliás, essa peça aqui, por onde passa a pulseira depois de passar pelo encaixe, é algo que poderia melhorar. Ela é de metal bem rígido e difícil de mudar de posição quando o relógio já está no pulso. E comigo sempre ficou numa posição meio incômoda em todos os dias que eu testei.
Por outro lado, o encaixe é bem firme, e não cai. A ideia é que ele fique firme no pulso mesmo em atividades mais extremas.
Na parte superior do relógio, a caixa de titânio e a tela ficam num mesmo nível, e ele tem essa coroa física que, na prática, vai proteger o display de safira. E aqui vem a marca da fabricante. Apesar do design mais quadrado, a área útil do relógio é redonda,
A Samsung mandou para o Brasil duas opções de cores, a titânio prata e a titânio cinza. A titânio prata tem laterais na cor preta, coroa física preta com indicadores branco. O botão central é o laranja e a pulseira é preta.
No titânio cinza, a gente tem todo o corpo nesse tom bem escuro, ali entre o grafite e o preto. Os indicadores da coroa física são laranja e a pulseira também é laranja.
Aqui a gente entra numa questão de gosto pessoal. Eu comprei o Galaxy Watch Ultra um dia antes de a Samsung me mandar a versão para testes. Eu comprei o titânio prata, e a Samsung mandou o cinza.
E eu gostei mais do prata, porque ele é mais sóbrio no geral, e ainda acho que a pulseira laranja fica mais legal nele do que no modelo cinza.
Questões pessoais à parte, eu queria fechar a questão de design dizendo que a caixa dele não é idêntica à do Apple Watch Ultra. Ele não é uma cópia, ou clone, mas é impossível não notar que o modelo da Samsung foi inspirado no da Apple.
Eu ainda tenho um outro ponto na construção. Uma das coisas mais legais dos relógios classic da Samsung, os Watch 4 e 6 com esse sobrenome, é ter uma coroa giratória, que adiciona uma forma diferente de navegar pelo relógio. Eu queria muito que a coroa do Watch Ultra fosse giratória.
Só que isso provavelmente tiraria a certificação militar e o IP68 que ele tem, já que seria uma peça móvel, que gira. Mas eu confesso que preferia ter ela do que a certificação militar.
Eu falei sobre o tamanho dele mais cedo, e honestamente, não me incomoda. Mas eu sou um cara grande, de 1,80 m e que gosta de relógios grandes, quase um discípulo de Faustão, que não reclama deles nem mesmo para dormir.
Mas a minha opinião já vem enviesada por eu gostar desse tipo de dispositivo, então eu perguntei pra minha esposa, que é mais baixa e tem um pulso fino.
Ela não se sentiu confortável com o tamanho do Watch Ultra, tanto que ela tem o Watch 7 de 40 mm. Os botões machucaram as costas da mão dela ao mexer o punho, o tamanho ficou incômodo e grande, e ela também achou pesado para usar diariamente.
Resumindo, não é um relógio para todos os punhos.
Tela
A tela desse modelo é uma super AMOLED de 47 mm com construção em cristal de safira, que dá muito mais durabilidade. A Samsung também caprichou no brilho. São nada menos que 3000 nits de pico nesse display.
Ela é muito confortável para o uso diário, te garante uma boa visualização dos conteúdos, é fácil de enxergar as informações nela, tanto pelo tamanho quanto pelo brilho.
Esse é o primeiro dos Galaxy Watch com três botões. Dois deles são os mesmos de sempre, o home, que fica no topo, que também é o botão de liga e desliga e aciona a assistente que você desejar, seja o Google Assistente ou a Bixby.
E o outro é o voltar, que retorna para a tela anterior à que você estava e ainda serve para carregar o Samsung Pay.
Mas o Ultra estreia um terceiro botão, que é um botão de ação rápida, que também está presente no Apple Watch Ultra.
Por padrão, ele serve para você ter acesso ao modo de exercícios e trocar entre eles no treino de Multisport, de quem eu vou falar daqui a pouco.
Claro que você pode remapear esse botão e usar para outras coisas, como começar exercícios específicos, mas ele fez bastante sentido funcionando dessa forma, abrindo todas as possibilidades de treino.
Outra função dele é funcionar como uma sirene se você pressionar por 5 segundos. Esse som pode ser ouvido a até 180 m de distância.
Não é todo mundo que vai precisar, mas quem fizer uma trilha e, eventualmente se perder, tem condições de usar essa sirene para pedir ajuda. Eu não consegui encontrar outra funcionalidade para esse botão, então fiquei com esse exemplo da Samsung mesmo.
Mas eu queria mesmo que ele fosse giratório e navegável, como o Huawei Watch GT4. Tinha espaço pra isso.
Você ainda pode mudar a orientação do relógio via software, para usar os botões do outro lado ou ainda mudar para o lado direito. Aplicações como o ECG e pressão arterial precisam saber exatamente em qual braço o relógio está para uma medição mais acurada.
Bateria
Eu já quero falar sobre bateria, porque eu reparei numa mudança interessante de comportamento. Até o Watch 5 Pro, o carregamento sem fio e o magnético duravam mais ou menos o mesmo tempo, mas agora está diferente.
Eu carreguei pela primeira vez usando o sem fio e deu 3 horas e 30 minutos de carregamento, de 0 a 100%. Depois, testei com o carregador e tomada que vêm na caixa, e o tempo caiu para 1 hora e 40 minutos, com metade da recarga em 50 minutos.
Esse carregamento rápido é uma mão na roda. Como ele não tem ainda a autonomia de bateria dos sonhos, quanto menos tempo ele ficar longe do seu pulso, menor é a perda de dados de saúde.
Nos meus dias de testes, eu consegui chegar a pouco mais de dois dias, mas esse tempo vai ser maior de acordo com os seus padrões de uso.
Se diminuir a frequência com que ele mede batimentos cardíacos, ou se não treinar sempre, a bateria tende a durar mais, assim como para um triatleta ou quem treina muito todos os dias, ele tende a durar menos.
A Samsung fala em até 100 horas longe da tomada no modo de economia de energia, mas não é um número compatível com quem pratica atividades diariamente, ou monitora a saúde.
Como eu treino de segunda a sexta, eu percebo que nesses dias o consumo é maior, pelo monitoramento de treinos, contagem maior de passos, e nem sempre a bateria aguenta o segundo dia.
No fim de semana, com menos atividades, a bateria passa do segundo dia longe da tomada. Eu esperava uma autonomia maior, mas está dentro da média da Samsung. O Watch 5 Pro também fazia números semelhantes.
Usabilidade e software
Quando eu falei sobre a semelhança entre Galaxy e Apple Watch Ultra, eu comentei que a intenção da Samsung era produzir um relógio pra quem precisasse das funções que o modelo da Apple tem, mas não queria estar no ecossistema da Apple.
E é isso que a gente observa em várias funcionalidades. Por exemplo, resistência a água até 10 ATM e resistência a água salgada indicam que o relógio é próprio pra quem quer fazer mergullho. Coisa que o Apple Watch Ultra fazia.
A Samsung também estreou aqui o recurso de GPS de banda dupla, que também é algo que a Apple já entrega no seu relógio top de linha. Por que banda dupla? Porque, com duas frequências, o GPS vai ter mais facilidade para traçar rotas precisas, com menor interferência do concreto dos prédios.
Em software, o Galaxy Watch Ultra também aceita gestos de pinça para ignorar notificações, assim como o Apple Watch Ultra, e ainda tem um gesto de toc toc, com o punho, para abrir a lista de exercícios.
Já que eu estou falando de software, a One UI Watch 6.0 ganhou refinamentos visuais nessa geração, com desenhos em 3D, mas é basicamente o que a gente está acostumado a ver nos relógios da Samsung desde o Watch 4.
A partir da tela inicial, se você arrastar da direita para o centro, você tem acesso aos cards, que dá acesso rápido à várias funcionalidades. De clima às informações de saúde, passando pelo player de música e agenda, dá pra personalizar da melhor forma pra você. Você tem direito a colocar 15 cards.
Arrastando da esquerda para o centro estão as notificações. No caso de emails e outras coisas importantes, tem um bom resumo e a opção de ver mais no celular. Para os mensageiros, dá para responder tanto por mensagens pré-programadas quanto pelo teclado da Samsung.
Você pode escrever tocando em cada letra ou deslizando, e a tela maior permite interagir de uma forma mais confortável com esse teclado. De cima para baixo está o painel de aplicações rápidas, e de baixo pra cima está a bandeja de aplicativos.
A grande vantagem da One UI é permitir baixar aplicativos de terceiros, e não tem novidade aqui. Temos Spotify, Deezer, Amazon e YouTube Music para ouvir direto no relógio. Também tem Strava, Nike e Adidas Running para monitorar seus treinos, ainda dá pra baixar aplicativos do Google e mais opções de watchfaces.
Não que eu ache que você vai precisar, porque tem muita coisa no próprio Galaxy Wearable, inclusive as watchfaces de relógios antigos da Samsung. Mas também tem watchfaces exclusivas da linha Ultra, que vão ter mais dados e até um modo noturno.
E como eu gosto de dizer, os relógios da Samsung são feitos para usar com celulares da Samsung. Dá pra usar com iPhone? Não. Dá pra usar com outro Android? Sim, mas você não tem todos os recursos.
A navegação no sistema e o tempo de resposta dos aplicativos está bem mais fluida graças ao novo chipset de 3 nanômetros que está equipando esse relógio. Dá pra perceber que ele está bem mais esperto que as gerações anteriores.
E a novidade é que o Galaxy Watch Ultra só conta com versões LTE, então se você quiser adicionar uma linha ou um plano nele, você pode. Já que ele é o Ultra, a Samsung não preparou uma versão apenas Bluetoooth para esse cara.
Monitoramento de saúde
Eu comentei mais cedo que a Samsung aumentou a quantidade de sensores, de 4 para 13. A primeira coisa que eu notei é que está mais rápido e preciso no monitoramento do sono.
Em um dia que eu não estava bem, gripado e com dificuldade para dormir, o relógio percebeu exatamente o tempo em que eu fiquei acordado.
A Samsung também menciona melhoras na acurácia da medição de batimentos cardíacos, e tudo mais. Esses eu não tenho comprovar que realmente está melhor, mas no sono foi perceptível.
Ainda no tema saúde, a Samsung adicionou mais um modo de treino, que é o multisport, que monta um treino de três esportes. Eu tentei, mas não dá para colocar qualquer esporte. A Samsung tem um campo limitado, e esse recurso é mais pensado em triatletas, por exemplo.
O que está disponível para todos é a pontuação de energia no Samsung Health. Ela vai somar seus dados de passos, exercício, batimentos cardíacos, estresse e sono, e vai atribuir uma nota.
Se você dormir mal, não treinar, ficar muito tempo parado, sua nota vai diminuir. É mais uma forma legal e fácil de entender e prestar atenção aos seus sinais.
Conclusão
Por todos os sensores que ele tem, pelo tamanho enorme e diferente do que a Samsung costuma trazer, o Galaxy Watch Ultra não é pra todos os punhos.
E pelo preço de R$ 4.499 à vista no site da Samsung, ou beirando os R$ 4.000 no varejo, dá pra entender que ele também não é pra todos os bolsos.
Se você tiver essa grana e precisar de tudo que o Galaxy Watch Ultra é capaz de fazer, não tenha dúvidas que esse é o melhor relógio que o “mundo Android” já fez.
É uma evolução bem interessante quando a gente compara com o Watch 5 Pro da Samsung, que era um modelo pensado em quem faz atividades mais pesadas.
E de verdade, o ponto é que a Samsung precisava de um produto capaz de fazer frente ao Apple Watch Ultra. Então era esperado que ela ia trazer os mesmos recursos e, dentro do possível, um visual bem próximo do relógio da Apple. Essa é a indústria. Copiar ou se inspirar é natural.
Mas se você não precisa de tudo que o Watch Ultra faz, o Watch 7 já tem GPS de banda dupla, o visual da One UI mais recente, 13 sensores e custa bem menos que o Ultra, e ainda tem o visual padrão dos Galaxy Watch.
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